domingo, 4 de março de 2007

‘Back to the basics’

‘Back to the basics’
Ryuichi Sakamoto, 1999


Voltando aos princípios básicos com que até agora vos tenho incomodado, regressei a algo que reli alguns tempos atrás e que me tem feito reflectir no meio de tantas coisas que, no entretanto, se foram e vão passando à volta.

Evoluir, evoluímos, mas não devíamos prescindir dos princípios, das referências que, por mais ultrapassadas que possam parecer, cada vez mais arredamos das nossas vidas.
Não se podem continuar a adiar opções, a fazer inversões de marcha ou mudanças meramente cosméticas, improvisando... Todos o fazemos, muitas vezes sem sequer nos apercebermos disso. É natural que assim seja. Mas, de vez em quando, há sempre uma voz interior ou exterior que nos alerta e nos faz pensar um pouco.
Se queremos ter projectos temos que definir rumos e assumi-los, respeitando diferenças, divergências, mas não enjeitando definir um conjunto de estruturas que são condição basilar para que esse ou outro projecto(s) possam ter capacidade de se erguer e caminhar. Todo e qualquer ciclo de mudança acaba por ser enquadrado pelo que atrás foi ficando. E afinal talvez não tenhamos assim mudado tanto nem tão radicalmente como por vezes pensamos ou somos levados a crer.
As nossas vidas são sempre projectos inacabados, utopias que nos fazem sonhar, rir e, com frequência, também sofrer.
A urgência do tempo presente de que vos falei noutros rabiscos, acaba por nos fazer esquecer as tais referências ora estilhaçadas na vertigem do ‘agora ou nunca’. Daí que muitos se regulem apenas pelo que vêm não se apercebendo nem procurando ir um pouco mais além do que a visão lhes proporciona. Temos outros quatro sentidos, e dependemos em demasia apenas do primeiro que vos referi. Vivemos em contextos demasiadamente diversificados e impositivos, muitas ocasiões mesmo impeditivos, nos dias que nos fogem.
Será que não estamos desbaratando tanto de nós próprios e dos outros?...Será que é desperdício e estupidez colocarmos estas questões?
Talvez sim. Por mim admito-o, embora continue, no íntimo, a rejeitar uma visão da vida tão mecânica e tão ‘terra à terra’. Na prática todos nos vamos paulatinamente consolando com variados alibis e justificações que vamos arranjando para nos encontrar, se e quando disso sentimos necessidade. Com dificuldade conseguimos regressar, nem que seja um pouco, aos aspectos básicos em que a música é também silêncio, serenidade. Em que a vida é vivida a um ritmo mais lento e adaptado aos seres que somos e que teimamos em não querer ser.
Que o novo século e milénio nos deixe alguns segundos, de quando em vez, para voltarmos atrás. Depois, então, procurando continuar a caminhar.