segunda-feira, 5 de março de 2007

Muito mal anda um país que maltrata os seus professores…



Um país e um poder centralizador que desde o 25 de Abril muitas ‘reformas’ operou e pouco ou nada avaliou ou consolidou em termos de sistema educativo…Que deixou que a massificação da escolaridade tivesse sido feita à custa da qualidade, da valorização do trabalho e da ética republicana, que se assume, ela própria, como defensora do mérito e do esforço… Que meteu na gaveta ou não deu continuidade às agora tão propaladas ‘boas práticas’… Quantos e quantos projectos educativos de sucesso se perderam ou não continuaram? Quantos e quantos profissionais e seu trabalho foram ignorados ou esquecidos na habitual babel burocrática de ministérios e direcções gerais, despachos e contra despachos, decretos e contra decretos, despachos interpretativos e contra interpretativos, tão paradoxais e ineficazes como as sucessivas equipas ministeriais que vão passando e pouca boa ou má memória vão deixando…
Muito mal anda um país e um poder que malbarata os profissionais da educação (e não são só professores e educadores…) e em que toda a gente acha que sabe alguma coisa de educação quando, por demasiadas vezes, mantêm uma visão perfeitamente salazarista das questões educativas… Todos e mais alguns dão doutas opiniões sobre ‘a Escola’, mas quem nunca tem razão são os que nela trabalham e a quem tudo é exigido – o serem pontuais e assíduos, como se a pontualidade e a assiduidade fossem imagem de marca deste país, (e dos seus diversos responsáveis políticos…), que sejam educadores, pais, mães, psicólogos, assistentes sociais, e já agora, animadores de tempos livres, guias turísticos, ‘pau para toda a obra’…
Muito mal vai um país que nem sequer vê que os seus professores são os mais avaliados de todos os seus profissionais – pelos alunos, pelos funcionários das escolas onde trabalham, pelos pais, por toda a gente e mais alguém. Mas sempre o foram em qualquer sociedade e nunca disso se queixaram, o que é, no mínimo curioso, comparando com outras classes profissionais! Tomara muitas outras profissões ter a exposição pública e o escrutínio avaliativo permanente que têm os professores…Talvez que isso fosse deveras importante para o próprio elevar de nível deste país…
Muito mal anda um país que gere rácios e esgrime números no que toca ao investimento no conhecimento, na inovação, no saber fazer e no saber porque se faz assim – na educação e investigação – na ESCOLA! Mas neste planeta agora ‘globalizado o ‘spread mais baixo do mercado’ é a nova moda – a mercantilização da educação e o ‘cheque-educação’, mais o ‘gestor escolar’ é o que está a dar… Como se o futuro dos nossos filhos passasse só pelo pela logística, a gestão ou o ‘deficit’ financeiro crónico talvez mais provocado por políticos deslumbrados por rotundas e fontanários, agora já não iluminados mas cibernéticos ou por betão e alcatrão… E os afectos? E o diálogo ou o simples olhar e ouvir compreensivos? – É que muitas vezes, infelizmente demasiadas vezes, são os professores e educadores que os dão, já não a família que se atomizou, se desestruturou e perdeu no meio da sociedade da imagem, onde o desenrascanço passou a ser a bitola ou a trapaça o meio de se enriquecer ou de galgar a escada social, sabe-se lá à custa de quem!...
É já tempo de parar e reflectir … Por isso mais não digo… Talvez isto, só por si, possa dar pistas e leve os comentadores e ‘provocadores’ por demais habituais da nossa praça mediática a olharem-se um pouco ao espelho e ganharem alguma credibilidade. Talvez isso também seja ‘pedagógico’ para quem tem a difícil missão de governar tal desgoverno…
É que errar é profilático e pedagógico e qualquer verdadeiro Professor sabe bem isso e não pede para ser entronizado ou ser privilegiado, ser considerado infalível ou super ser.
Porque qualquer verdadeiro Professor, e ainda somos maioria na nossa missão, sabe da importância do seu mister, da responsabilidade que carrega aos ombros, disso não tenham qualquer dúvida. E se erramos, somos sempre os primeiros a sabê-lo! Basta-nos olhar para os olhos e caras daqueles com quem todos os dias trabalhamos!
Porque, é bom não esquecer, o ‘pedagogo’, na Grécia antiga, era o escravo que ensinava…Mas mesmo escravo, talvez fosse tido em melhor consideração do que hoje muita gente quer fazer crer…
Mal vai o país que maltrata em vez de acarinhar os seus professores…

Professor em Tomar, Portugal
(já lá vão 25 anos, por vocação e, apesar de tudo, com vontade de continuar)