quinta-feira, 13 de junho de 2013

Muito mal anda um país que maltrata os seus professores… (Revisitado anos depois…)

Sete (7) anos depois, revisito o que escrevi, ao tempo, e que continua bem actual, infelizmente…
(Cito passagens do que, então, consegui publicar local, regional e nacionalmente…)

«Um país e um poder centralizador que desde o 25 de Abril muitas ‘reformas’ operou e pouco ou nada avaliou ou consolidou em termos de sistema educativo…Que deixou que a massificação da escolaridade tivesse sido feita à custa da qualidade, da valorização do trabalho e da ética republicana, que se assume, ela própria, como defensora do mérito e do esforço… Que meteu na gaveta ou não deu continuidade às agora tão propaladas ‘boas práticas’… Quantos e quantos projectos educativos de sucesso se perderam ou não continuaram? Quantos e quantos profissionais e seu trabalho foram ignorados ou esquecidos na habitual babel burocrática de ministérios e direcções gerais, despachos e contra despachos, decretos e contra decretos, despachos interpretativos e contra interpretativos, tão paradoxais e ineficazes como as sucessivas equipas ministeriais que vão passando e pouca boa ou má memória vão deixando…

Muito mal anda um país e um poder que malbarata os profissionais da educação (e não são só professores e educadores…) e em que toda a gente acha que sabe alguma coisa de educação quando, por demasiadas vezes, mantêm uma visão perfeitamente salazarista das questões educativas… Todos e mais alguns dão doutas opiniões sobre ‘a Escola’, mas quem nunca tem razão são os que nela trabalham e a quem tudo é exigido – o serem pontuais e assíduos, como se a pontualidade e a assiduidade fossem imagem de marca deste país, (e dos seus diversos responsáveis políticos…), que sejam educadores, pais, mães, psicólogos, assistentes sociais, e já agora, animadores de tempos livres, guias turísticos, ‘pau para toda a obra’…
Muito mal vai um país que nem sequer vê que os seus professores são os mais avaliados de todos os seus profissionais – pelos alunos, pelos funcionários das escolas onde trabalham, pelos pais, por toda a gente e mais alguém. Mas sempre o foram em qualquer sociedade e nunca disso se queixaram, o que é, no mínimo curioso, comparando com outras classes profissionais! Tomara muitas outras profissões ter a exposição pública e o escrutínio avaliativo permanente que têm os professores…Talvez que isso fosse deveras importante para o próprio elevar de nível deste país…
Muito mal anda um país que gere rácios e esgrime números no que toca ao investimento no conhecimento, na inovação, no saber fazer e no saber porque se faz assim – na educação e investigação – na ESCOLA! Mas neste planeta agora ‘globalizado o ‘spread mais baixo do mercado’ é a nova moda – a mercantilização da educação e o ‘cheque-educação’, mais o ‘gestor escolar’ é o que está a dar… Como se o futuro dos nossos filhos passasse só pelo pela logística, a gestão ou o ‘deficit’ financeiro crónico talvez mais provocado por políticos deslumbrados por rotundas e fontanários, agora já não iluminados mas cibernéticos ou por betão e alcatrão…

E os afectos? E o diálogo ou o simples olhar e ouvir compreensivos? – É que muitas vezes, infelizmente demasiadas vezes, são os professores e educadores que os dão, já não a família que se atomizou, se desestruturou e perdeu no meio da sociedade da imagem, onde o desenrascanço passou a ser a bitola ou a trapaça o meio de se enriquecer ou de galgar a escada social, sabe-se lá à custa de quem!...
Porque qualquer verdadeiro Professor, e ainda somos maioria na nossa missão, sabe da importância do seu mister, da responsabilidade que carrega aos ombros, disso não tenham qualquer dúvida. E se erramos, somos sempre os primeiros a sabê-lo! Basta-nos olhar para os olhos e caras daqueles com quem todos os dias trabalhamos!
Porque, é bom não esquecer, o ‘pedagogo’, na Grécia antiga, era o escravo que ensinava…Mas mesmo escravo, talvez fosse tido em melhor consideração do que hoje muita gente quer fazer crer…
Mal vai o país que maltrata em vez de acarinhar os seus professores…»

João Mendes Nogueira,
Professor em Tomar, Portugal
(já lá vão mais de 30 anos, por vocação e, apesar de tudo, com vontade de continuar)

Maio de 2006 / Junho de 2013


Sem comentários: