domingo, 22 de novembro de 2015

Dos dias das trevas...



De novo as trevas cobriram Paris, a Europa, todos os que ainda pugnamos pela humanidade contra a barbárie...
De novo ataques inomináveis abateram inocentes cidadãos... Pouco ou nada aprendemos de casos passados e bem recentes... Depois de Bombaim, na Índia, este tipo de ataques indiscriminados já eram conhecidos, mas, como de hábito, foram lá longe, como se hoje houvesse longe...
A banalização do terrorismo, das guerras civis médio orientais ou africanas pouco ou nada tem incomodado o ocidente, só nos lembramos disso recentemente com as vagas de refugiados e migrantes em fuga desses infernos... ou, tristemente, colocamos trancas nas portas depois delas arrombadas... num zelo securitário que esquece o verdadeiro combate à pobreza e exclusão lá, no tal longe que hoje é logo ali, ou pior ainda, nos guetos que fomos criando e procurando esquecer ou ocultar no nosso próprio quintal...
A banalização da pobreza e da exclusão tem estas consequências... Já muitos o têm avisado e é questão  bem estudada e sabida... Até na pacatez provinciana duma Europa emudecida e atónita perante a gritante realidade já era tempo de nos deixarmos de remendos e hesitações e de começarmos mesmo pelo princípio... A violência e a guerra só podem ser combatidas erradicando exclusões, preconceitos e miséria. Só o empenho no desenvolvimento sustentado de regiões e países mais pobres e assimetricamente muito pouco desenvolvidos, em muitos casos verdadeiros não estados, pode de algum modo prevenir o desespero dos povos e das gentes dum terceiro mundo, que um amigo africano já me classificou de quarto mundo, abandonado pelos mais ricos, tecnologicamente ultra desenvolvidos, mas completamente esquecidos dessas cruas realidades.
Também é por aqui que se podem defender direitos democráticos e sistemas que, por imperfeitos que sejam, evoluem no sentido da abertura e da tolerância, sem esquecerem valores universais de humanidade. Só assim deixaremos os dias das trevas em que vamos apenas sobrevivendo ao medo, só assim mereceremos romper os muros da indiferença ou de ódios mesquinhos, mereceremos a história que fomos construindo neste planeta globalizado que dominamos e onde nem sequer estamos a respeitar os valores mais altos da inviolabilidade da vida humana.



Lisboa, 20 de Novembro de 2015


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